segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Fixação Mental

As almas e as coisas, cada qual na posição em que se situam, algo conservam do tempo e do espaço, que são eternos na memória da vida.
Ao lado de extensa galeria, dois homens e três senhoras admiravam singular espelho, junto ao qual se mantinha uma jovem desencarnada com expressão de grande tristeza.
Uma das mulheres teve palavras elogiosas para a beleza da moldura, e a moça desencarnada, na feição de sentinela irritada, aproximou-se tateando-lhe os ombros. A mulher tremeu, involuntariamente, sob inesperado calafrio, e falou para os companheiros:
-Aqui há um estranho sopro de câmara funerária. É melhor que saiamos...
Confiou-se o grupo a manifestações de bom humor e retirou-se acompanhando-a noutro rumo.
A entidade parecia contente com a solidão e passou a contemplar o espelho, sob estranha fascinação.
Por que a jovem se interessava com tanta ânsia, por um simples espelho?
Este espelho originalíssimo, foi confiado à jovem por um rapaz que lhe prometeu casamento. Era filho de franceses asilados no Brasil, ao tempo da França Revolucionária de 1791. Menino ainda, aportou no Rio e aí cresceu e se fez homem. Encontrou-a  e conquistou o coração. Quando arquitetavam  projetos de casamento, depois da mais íntima ligação afetiva, a família estrangeira, animada com os sucessos de Napoleão, na Europa, deliberou o retorno à Pátria. O moço pareceu desolado, mas não desacatou a ordem paterna. Despediu-se da noiva e lhe implorou que guardasse a peça  como lembrança  até que pudesse voltar, e serem então felizes para sempre...Contudo, distraídos na França pelos encantos de outra mulher, não mais regressou...Depressa esqueceu responsabilidades e compromissos, tornando-se diferente. A pobrezinha no entanto , fixou-se na promessa ouvida e continua a espera-lo. O espelho é o penhor de sua felicidade.
Imagino a grande viagem que terá feito no tempo, vigiando-o como sendo propriedade sua, até que a lembrança viesse por fim repousar no museu.
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Examinando a harmonia da Lei, é provável que o moço que empenhou a palavra, provocando a fixação mental desta criatura, reencarnados hoje ou amanhã, possivelmente um dia virão até aqui, tomando por filha ou companheira, no resgate do débito contraído.
(Livro: Nos domínios da mediunidade, págs.283-285)

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