terça-feira, 5 de fevereiro de 2019

Nossas horas


      Nunca os profissionais do espetáculo tiveram tanto poder a invadirem as fronteiras e conquistarem os domínios de nossas horas, quanto na atualidade, passando a  dominar  de forma consciente e sistemática sob o império da passividade. A cultura, outrora a sementeira de potencial mudança,  torna-se mais uma mercadoria a serviço do capitalismo, através da televisão, da publicidade, e das mídias sociais.
      Lamentavelmente uma sociedade em que o “natural”, o  “autêntico”, e o “espontâneo” , é substituído por modelos pré-estabelecidos de acordo com  interesses financeiros. A própria realidade se converteu em encenação, e a fantasia passa a ser mais real que a realidade, quando emersos na programação insistente dos programas de auditórios, dos noticiários sensacionalistas, nos dramas noveleiros.
      A esse  quadro desolador, nos reportamos a partir da Revolução Industrial no século XVIII, embora trazendo progresso e bem estar, propiciou a infeliz tragédia do ambicioso imperialismo das nações industrializadas,  aos  países pobres. As forças históricas dos sistemas políticos, aos avanços tecnológicos propiciando a globalização dos meios de comunicação, incitador sutil do material visual, produtor de conceitos, ideologias manipuladoras nem sempre condizente com a realidade, porém a serviço dos interesses financeiros.
      As organizações se aproveitam dos eventos tradicionalistas instituídos atavicamente entre as comunidades a  fim de levar a necessidade do consumo de produtos e alimentos consagrados pelo costume, dando força ao consumismo como ritualístico compromisso.  Gerando congestionamento do tempo destinado ao descanso e ao lazer, à multidão de convites e compromissos sociais nem sempre prazerosos, e suportados a título de “obrigação”.
Considerando que a ameaça de viver uma irrealidade, desprovida de discernimento, leva ao modus vivendi das sociedades modernas ao descontrole de ideais significativos e plenos do ser.
      A palavra de ordem é atrair e manter a atenção do público, satisfazendo seu apetite pelo sensacionalista, pelos dramas alheios e sandices dos incautos.
       No afã de esquecer e  encobertar os próprios conflitos, somos levados às horas e horas que somam-se aos anos, tempos depositados na vacuidade do nada, entretenimentos desprovidos do olhar para o próprio interior, para se ater ao ilusório mundo dos problemas alheios, quase sempre impossível de auxílio.
As preferências culturais, as conversas amigáveis de outrora, somam-se a reduzida parcela da população, em contraste com as massas medíocres em poder de percepção e análise, que levaria à conquista de valores e edificação de conceitos valorosos de comprometimento com o bem comum na justiça, nas escolhas conscientes dos representantes do povo na administração pública.
      Quanto mais a vida se torna um produto, mais nos separamos dela, tornando-nos espectadores dos eventos  dialogados unilateralmente, consumidores autômatos dos desejos visualizados pelas imagens da mídia.
      Examinemos as páginas dos contatos com  o pensamento alheio, diariamente e façamos companhia àquelas que desejam elevação. Não precisamos das que se afiguram mais brilhantes, mas daquelas que nos façam melhor.


A sociedade do espetáculo- Berman
Pão Nosso – Chico Xavier