“-
Querido povo de Praga, agradeço sua confiança e seu carinho, que aquecem
sobremaneira meu coração. É por vocês o meu trabalho, e peço a Deus que me guie
nessa difícil tarefa de abrir os olhos daqueles que o mantém fechados para os
erros da igreja. Os nossos dois papas, Gregório XII e Alexandre V, estão
preocupados demais tentando chefiar o mundo cristão, e não conseguem
compreender sua missão de restaurar os verdadeiros princípios cristãos dentro
da Igreja.
Distanciamo-nos
da verdade, meus irmãos, distanciamo-nos demais. A Igreja Católica desfigurou
os ensinos de Jesus, a quem sirvo com todo o meu coração. É a ele que sirvo, e
não à Igreja e a seus templos suntuosos, suas caras indulgências e seus cultos
vazios.
-
Não nos percamos nos dogmas e nas regras absurdas que do Evangelho não têm nem
vestígio. Voltemo-nos para os ensinos de Jesus – estes, sim puros e verdadeiros
– e os sigamos, colocando-os na prática de nossas vidas. Tal deveria ser o
papel da Igreja: ensinar as verdades que Jesus trouxe à Terra, sem interesses
mesquinhos de poder. O poder da Igreja precisa ser contido; não pode continuar
a ser ilimitado, ferindo e matando em nome de Jesus.
Agradeço
a confiança que por mim depositam, e prosseguirei o meu trabalho, sem descanso,
até que tenhamos o verdadeiro Evangelho
dentro de nossos templos. Que Deus nos abençoe.”
Este
foi último sermão ao povo, após sendo convidado a participar do Concílio
de Constança. Lá fora preso e julgado
pelo clero e considerado herege por
desafiar a autoridade da Igreja.
Após
a sentença Jan respondeu:
“
– Estou pronto para morrer na verdade do Evangelho, que ensinei e escrevi.
Morro a serviço de Jesus e de seus ensinamentos.”
Ao
alcançarem o local preparado para a execução, despiram-no, amarraram-no a um
poste, ajuntaram lenha à sua volta e lhe puseram fogo. Tão logo o amarraram,
Jan Huss, viu-se circundado pelas entidades espirituais que o amparavam. O
grupo de espíritos envolviam o corpo físico de Jan Huss em intensa energia,
anestesiando-lhe os centros nervosos e atenuando a dor do fogo em sua pele.
Convicto de sua decisão, ele não sentia medo. Ao contrário, a bela visão que
tinha era o prenúncio das alegrias que o aguardavam ao transpor aquele momento,
e ele elevou, em meio às chamas, melancólico canto ao Pai Celestial!
Nos
bastidores, falange de espíritos renitentes do mal, que insistiam em opor-se a
Deus e a Jesus, comprometidos em impedir o progresso da Terra, agiam de forma
muito organizada, buscando sufocar todas as formas de manifestação da verdade.
Tinham os homens sob seu controle por meio dos líderes da Igreja Católica
Romana, que muitas vezes sem consciência os serviam. Reunidos em Conselho, para
avaliar o caminho a trilhar, já que agora Huss estava liquidado, premeditavam outras
providências:
- "Diante das reformas religiosas, estudemos de perto os protestantes e suas
fraquezas, que por certo todos têm. O orgulho dos homens prossegue sendo nosso
maior trunfo. Vamos aprisioná-los à letra, afastando-os da essência à qual
muitos se ligam com genuína devoção. Transformamo-los escravos da letra morta
da Bíblia, instaurando confusão em suas maneiras de compreendê-la. À medida que se agarrem ao limitado
entendimento da Bíblia , em seu zelo pela verdade, poderemos criar entre eles a
incompreensão, a desunião e seu conseqüente enfraqu,ecimento. Irão se perder. O
orgulho fará o resto, e logo se tornarão nossos servos outra vez."
Mas
Jan Huss, retornou tempos depois como
Allan Kardec, trazendo novamente a mensagem do Evangelho redivivo, do cristianismo
primitivo.
Jan Huss